29.12.10

Existe um sentimento de renovação; Mas nem é pelo ano novo.
É por algo mais...

22.11.10

Oco!

Abriu a geladeira. Fechou. Abriu de Novo. Fechou, sem que desse tempo da luz acender. Lembrou que houvera esquecido de fazer seu exercício de relaxamento pela amanhã. Foi como se tivesse a certeza, mesmo esta já sendo certa, que houvera esquecido de si. Esquecera de si. Sentiu raiva por esquecer de si. E se apagou mais rápido que a luz da geladeira há pouco. Atendeu o telefone, esqueceu da raiva, do relaxamente, de si. Conversou, riu. Marcou e desmarcou compromissos. Sentou, pensou no que deveria escrever. Não foi de repente, mas descobriu um cérebro oco. As paredes deossos preenchidas de vazio. O que sobrevivia ali? Que palavras adjetivariam aquilo que não poderia ser nada além de OCO?

E assustou-se, comentendo mais um erro ao tentar vangloriar-se do que é, ou iludir-se de que é algo. Se pôs sobre os demais. Se seu cérebro era oco, e o cérebro do fulano? Seria oco, oco, oco... com ECO? Talvez nem houvesse eco, não haveria obstáculo pra criá-lo. Seria oco e infinito, exponelcialmente oco. E esquecia-se cada vez mais que tudo era ilusão.

Inclusive imaginar um crânio repleto de eco pertencente a outrem.
Inclusive acreditar que pensava enquanto escrevia


Pensamentos de Priscila Costa do Ziguezagueando no meu sétimo andar

21.11.10

Particular


Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou portabandeira
de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular.
Marisa Monte


Eugenio Recuenco


29.10.10

Do dia difícil.

No fim das contas eu estou sempre sozinha.

Quando eu mais preciso estou sozinha. E ainda me culpam por parecer fria demais de vez em sempre... Fiquei assim. Fria e sozinha. Como uma velha seca.

Chorar na multidão é uma fraqueza raríssima. De quem já não agüenta mais sobre as próprias pernas. De quem já não consegue mais sozinha. De quem implora por ajuda e num grito desesperado grita: Cuide de mim!

Mas tenho amor. Tenho tanto amor, tanto amor pra dar. Pra receber. Eu mereço. Sei que mereço ser feliz. Porque então não consigo alcançar a plenitude?

Essa casa vazia e esses móveis, brancos demais para mim, chegam a me irritar. Onde estão meus amigos? Cadê um abraço, um beijo? Não tenho consolo. Só sei chorar e chorar. Aonde isso vai dar? Numa cara inchada e ‘embriagada num espelho de um banheiro’.

Nem tenho ninguém pra dividir uma cerveja e umas mágoas agora. E era agora que eu precisava. AGORA;

Mas agora estou ocupada demais defumando a minha casa. Bebendo minha cerveja quente e chorando minhas mágoas no computador. Lindo não?

Depois reclamam por eu ser uma velha seca...

Foi assim que eu aprendi a ser.

13.10.10

Microconto de bolso - "Circuito fechado".

O dia começa com um chinelo nos pés e termina da mesma forma. Dar bom dia e fazer o café preto pra poder fumar. Fumar pra poder beijar. Banheiro, barata. De novo chinelo. Plaft. Droga, sujou a parede. Deixa aí, depois eu limpo. E depois eu arrumo a roupa dentro do guarda roupas também. Ou não, acho melhor encontrar uma casa nova e fazer logo a mudança.
Mais café, mais cigarro. Uma boa música tocando na tv, um musical que faz chorar antes do dia começar.
Lavar roupa, louça, área, almoço, louça.
O dia acontece e termina com o chinelo no pé da cama.
Começou com gosto de café e terminou com de cerveja. Cerveja? Esqueci de escovar os dentes. Pasta, escova escova, água. Barata! Corre e pega o chinelo no pé da cama, e mata a barata da parede. E esquece o chinelo por lá mesmo.
Corrigindo: O dia começa com os dois chinelos na cama, termina com um pé só, repousando sozinho.

23.9.10


É só o álcool ou tem algo acontecendo comigo que está me fazendo chorar ouvindo Mil Pedaços?

Eugenio Recuenco
É como um samba; mas a bateria descompassou.
É como a estranha sensação de nadar nadar e morrer na praia.
Tudo ficou pra trás. E agora uma vida nova me convida, mas eu não sei vivê-la.
São novos cheiros e novas sensações. Todos os botecos com juke box que eu nunca sentei. Todas as coisas que eu nunca fiz, agora eu posso. Mas não sei fazê-lo.
É como se, de novo, eu não soubesse dançar a música da minha vida.
O samba saiu do ritmo e virou uma confusão de sons. A Harmonia virou barulho...

"Não há mais quem nos separe
Somos os dois uma só parte
Juntos como unha e carne"

21.9.10

Quem é você?

Uma das grandes questões que rondam a mente de todas as pessoas é essa: Quem é você?
A pergunta não é o que você gosta de ouvir, ou seu tipo de comida, de pessoa, de roupa ou de sentimento. E sim: quem é você?

Hoje conclui: Eu sou meus sonhos frustrados; e a conseqüência de todas as coisas que me aconteceram. Eu sou o desejo, e a desistência. Sou a fúria engolida por necessidade e a explosão de emoções no travesseiro.
Não sou a cerveja que tomo, nem a música que ouço ou a conversa que tive. E sim a resposta pra isso tudo. A forma como reagi, e o que penso disso tudo. Eu não sou o que quero ser, e sim o que acho que sou. Pseudo - só pseudo.
Eu sou o amor pelo amor. Por mim mesma, e pelo meu tesão.
Aquele cansaço, e a euforia pra cansar-se. Sou o dever que não cumpri, e não quero realizar. A promessa feita, e rompida. Eu sou, resumindo, as duas músicas da minha vida 1. 2.
Mas no fim das contas ninguém se importa com o que você é, só com o que você tem, ou o que você parece ser. Com a máscara que cobre teu rosto e a roupa que veste teu corpo. Ninguém quer saber quem você é de verdade, de dentro pra fora.

29.8.10

Sua partida

Hoje parece ser o dia mais triste desde que saí de casa. Minha mudança tão esperada há tempos atrás hoje se mostra um grande erro, tarde demais pra perceber, e cedo demais pra voltar.

A pior forma de ter é o ‘ter’ longe. Onde você possui um corpo e um coração, mas não pode desfrutar disso quando precisa. Se não se tem, ok. Você já sabe disso. Mas quando é assim... É como uma pilha de papeizinhos que pode desmoronar a qualquer momento. Um peso isoladamente leve, mas uma é uma enorme pilha de papeizinhos, eles vão me soterrar em anotações de consultas, lembretes, números, músicas e datas. Eu posso simplesmente morrer pela ‘rotina de desilusões’.

Eu tenho tanta coisa pra fazer, mas não vejo motivo para fazê-las. Porque limpar, simplesmente para ficar limpo? Porque organizar, para ficar arrumado? Porque pintar, correr, comer... Porque estar aqui? Eu só consigo me lamentar pela partida. Até agora parecia tudo tão perfeito, mas ele se foi e levou uma parte do que era meu, meu amor. Levou além da alegria o cheiro que ficava na cama, o suor que grudava em mim quando fazíamos amor, e até o ronco que não me deixava dormir. Tudo parece bonito agora, talvez um dia não seja mais, provavelmente um dia o ronco pode incomodar assim como o meu bruxismo, e o suor pode incomodar por sujar mais um lençol limpo. Mas agora eu sei que é tudo bonito, e que eu amo cada pequeno detalhe desse e é disso tudo que eu sinto falta. E vou sentir todos os minutos até eu ter de novo. Agora eu tenho uma cicatriz no cérebro, preciso que alguém me ajude a fechá-la.

“Nem parece que o esperado, num instante desapareceu”

24.8.10


A guerra está dentro do seu coração, da sua cabeça; O seu mundo, só depende de você.
Entenda.

23.6.10

do futuro

É como voltar ao passado. Perceber que pra ser como eu era antes só bastava ter tempo. Ouvir minhas músicas e ver meus dvds, é tão inspirador ter um pouco mais de arte na vida. Deixei o Sidney Sheldon na cabeceira olhando pra mim e me dizendo: "conte-me seus sonhos" pra ouvir a Marisa Monte me dizendo "e apaga a luz". É como se me disessem: "Feche os olhos e descanse; tudo isso é uma grande ilusão, vai passar quando você acordar com um beijo." Mas não é assim que funciona. Eu me vou. E não sei o que será de mim sozinha.
Eu tenho o dom de destruir coisas quando fico nervosa e de chorar desesperadamente pela perda daquilo que arruinei. Um vidro de perfume, um óculos, uma pizza (e não preciso citar uma pessoa não é?).
É como enfim descobrir, que voltando ao passado não se pode mudar nada. E que a vida nova é tão distante quanto o mês que vem. E agora, ocasionalmente, a Marisa Monte sussura no meu ouvido tão perfeitamente o que eu queria expressar que não posso fazê-lo tão bem quanto ela na Dança Solidão.
[...] "Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado.
Desilusão, desilusão
Dança eu, dança você
Na Dança da solidão"
O meu futuro é logo ali, e não posso me alegrar ao vislumbrá-lo, já que só me vejo sozinha nele.

Barulinho Bom, ao vivo. Marisa Monte

10.5.10

Nem Alice, nem chapeleiro, nem rainha. Ela era como coelho apressado. Só não olhava toda hora no relógio porque não tinha um.
_ Que horas são por favor? Disse apressada.
_ onze e...
_ Aiii Meu Deus!
_ Opa, onze não. Meio dia e vinte.
_ Aiii, o almoço! Vão me cortar cabeça.

28.4.10

O dia da aposentadoria.

- Amanhã é feriado, amanhã é feriado!
Aquele velho saiu gritando na rua, pela vizinhança. E todos que o ouviam, estavam o achando louco. Feriado? Mas amanhã é 24/04, o feriado foi dia 21. E ele insistia dizendo: - Amanhã é feriado, que bom! Até que enfim esse dia chegou.
Eu estava chegando no trabalho quando ele me parou e disse:
_ Ô Minha jovem, amanhã é feriado, não é?
_ Não que eu saiba, e olha que geralmente eu fico atenta aos feriados.
_ É sim, quer apostar como é?
_ Hã?!
_ Que dia é amanhã?
_ Acho que é 24. Não é?
_ Isso mesmo, agora olha aqui - tirando o RG do bolso me apontou na data de nascimento - 24/04/1954. Qualé o cabra que você conhece que nasceu no dia vinte e quatro, do quatro, de mil novecentos e quarenta e quatro, às vinte e quatro horas?
Disse que nenhum e tentei voltar ao trabalho - se ele me deixasse. Mas existe 24:00? Depois das 23:59 o relógio não zera e começa um novo dia às 00:00. Acho que sim. E se assim for, ele não nasceu portanto no dia 24 e sim no dia 25. Ia precisar esperar mais um dia pelo feriado.
_ Amanhã eu faço sessenta anos, até que enfim minha aposentadoria!
_ Parabéns, que bom que a sua chegou; mas enquanto não vem a minha eu preciso trabalhar.
Ele se virou e continuou gritando "Amanhã é feriado"
Depois eu me dei conta, nasceu em 54? Então ele não vai fazer 60 anos e sim 56. Xiiii, acho que ele vai ter que esperar mais quatro anos.

17.4.10

Do sonho da sexta.

De novo naquele motel que só existe nos meus sonhos. Eu e ele, num quarto com detalhes de madeira, e vidros embaçados por toda parte, era só isso que dividia um quarto do outro e os corredores. Além de umas escadas que davam acesso aos quartos que eram elevados.
Por todo lado tinha sangue quando ele entrou, e ela desesperada chorando no banheiro esperava que ele não viesse, mas veio. 'Que bom!' pensou depois de tudo.
Foi uma noite de amor como só pode acontecer nos sonhos, em baixo de um lençol vermelho e com velas por toda parte ele gemia seu prazer descrevendo as incríveis sensações; era como morrer na boca de uma mulher de olhos tão negros quanto a noite. Explodir e morrer.
Depois disso, uma nova face resplandeceu à porta entreaberta do banheiro. Já de outra maneira, ele gemia o prazer dela; ela lhe mordia a orelha, simultaneamente, com carinho e ferocidade; o suor que escorria por entre os seios e lhe molhava a raiz dos cabelos, pingava sobre ele escorrendo pelo peito até as costas; e as unhas nelas cravadas rasgavam a pele do responsável pelo maior prazer. Num simples e repetitivo movimento de vai-e-vem eles acabaram adormecendo sobre o lençol já encharcado do amor dos dois. Ela se virou e suspirou por mais essa noite em Paris, e Que Bom que Ele veio!

16.4.10

O sexo é sagrado...

O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
Claudia Marczak
Trilha: Brilha Onde Estiver - O Teatro Mágico



(L)

15.4.10

Daquela conversa morta e ressucitada.

Dormi chorando pela dor de cabeça e acordei chorando pela dor de ausência. Me sentindo sozinha.
Tão triste lembrar de certas coisas; e se fosse você, perdoaria?
O Perdão uma vez dado não deve ser relembrado, se for é porque não foi realmente perdoado. Então que o seja, a angustia da certeza do perder é maior que a ferida aberta e talvez nunca mais fechada. Um corte no tempo, um falha do homem causada por ele. Mas do que eu estou falando?
O Perdão já foi dado e não merece ser lembrado.
Mas tem coisas que nunca morrem definitivamente mesmo.

Trilha: Zé Ramalho - Garoto de Aluguel

27.2.10

Da sexta a noite;

Eu desço dessa solidão espalho coisas sobre um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão é inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas cem um colibri
Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom...
[...]
No mais estou indo embora, baby.
Estou indo embora.
(Eugenio Recuenco)
A gente perde tempo com cada coisa besta. Besta!

19.2.10

Eu peço bem pouco:
Só quero que me faça feliz. E que se esforce tanto pra conseguir isso quando eu me esforço para fazê-lo contigo.
Cumprir essa missão inclui surpresas como aparecer de repente ou satisfazer certos caprichos como um um abraço, seja qual for a hora do dia ou da noite...


(Eugenio Recuenco)
Qual o problema? Eu sou louca mesmo. E aí?
Não posso ter meus caprichos também?

18.2.10

Meu vício agora é o tempo.

Quando se vive uma semana inteira de puro amor, de carinho e tesão a primeira noite sozinha - depois disso tudo - parece longa e solitária demais. Dá a impressão que a vida real, a que você sempre teve, é que é a errada, a certa é a que estava levando esses dias, afinal de contas era nessa vida que estava mais feliz (então acho que essa é realmente a certa - a que faz mais feliz).
Depois de ter a minha vida mudada o amor parou de parecer algo tão distante e sofrido, passou a ser bonito e arriscaria até mesmo dizer simples, hamornioso. Afinal de contas amor é só amor, auto explicativo, simples, não simplório.
As noites mudaram, os dias também. Minha vida mudou e sobretudo minha visão do tempo. Hoje eu vivo esperando por duas coisas: uma é o domingo, o melhor dia da semana. E o outra eu não sei bem o que é; mas sinto que está para acontecer, sei a direção de que isso virá, mas não o sentido (e é aqui que mora o perigo) ele pode vir contra mim. E colisões doem.

8.2.10

Viagem ao inferno.

Foi ao inferno, ficou idiota e voltou.

Sorrindo com o canto da boca não percebeu a agonia que se abatia sobre o outro pelo medo de perde-lo para o inferno de uma vez por todas. Para nunca mais.

Quando finalmente recuperou a consciência, após a fumaça ter se dissipado por completo, descobriu que a dor do outro fora tamanha que adormecera afogando-se em suas próprias lágrimas. Então no fundo da escuridão com a fumaça voltando a subir, descobriu o verdadeiro passaporte para o inferno. Perder quem temia perdê-lo, era pior que qualquer viagem que já tivesse feito às profundezas de sua inconsciência. Descobrira finalmente a identidade do inferno na ausência de quem lhe queria.

29.1.10

O relógio e a moça banguela

E tinha aquela mulher magrela e sem dentes sentada logo a minha frente na cadeira vermelha de espera com braços pretos olhando com uma cara engraçada pros próprios pulsos, ou melhor para o antebraço que carregava um pequeno relógio dourado, já meio desbotado deixando mostrar acidentalmente aquelas falhas de bijuteria quando velha e mal cuidada.
Ela olhava com um enorme encanto para o tal relógio descascado e sorria com as gengivas para moça ao meu lado até que ela disse algo quase imcompreensível, que após um grande esforço pensando o que ela quis dizer resolvi concluir acreditando que ela havia dito.
- Meu relógio novo, comprei em Birigui.
E sorriu timidamente.
Mas bem no fundo eu não acreditei que ela conhecesse além das fronteiras rondonieses, quanto mais o estado de São Paulo que ficava a mais de três mil quilômetros de onde se encotrava agora. Uma pobre diaba. Tentou puxar assunto mais algumas vezes mas ninguém podia entender o que ela dizia, provavelmente sem os dentes na boca as palavras soam de uma maneira muito diferente, talvez o suficiente para parecer outra língua (além dela nunca conheci alguém que não tinha nenhum dente).
Até que finalmente a moça ao meu lado disse: - Muito bonito seu relógio.
E ela sorriu, e eu desejei ter uma máquina fotográfica pra gravar digitalmente o primeiro e mais bonito sorriso banguela que eu vi na vida. E eu me peguei pensando se todos os sorrisos baguelas eram espontâneos assim. Será que na verdade os dentes são tão exibidos que estragam o sorriso quando tentam amarelá-lo?

Deve ser ruim ser banguela.

E eu também percebi que, espontaneamente, estava pensando maldosamente em que homem iria querer uma mulher como aquela. Com aquele vestido branco de renda, onde as rendas se encontravam mais amareladas que o sorriso de um fumante, rasgada em alguns pontos e remendada em alguns outros. Com os pés sujos sob aqueles chinelos de borracha - também remendados - , e o cabelo tão duro e sujo quanto eu imagino que seja de uma moça do Haiti após um terremoto, e seu cheiro era tão forte que eu não pude distinguir se era compatível à falta de banho e o suor acumulado, ou à falta de escovar os dentes e lavar o cabelo, ou tudo junto - o que seria o mais provavel. Percebi logo em seguida que a pergunta fora respondida, mais maldosamente, quando lembrei-me da característica mais marcante da moça do relógio: Era banguela. Sem nenhum dente, ninguém na defesa... Para alguns homens isso podia ser muito, muito interessante.
Por fim ela pegou sua sacolinha com o celular nokia de lanterninha que uma senhora mais velha - porém mais lúcida e limpa - que a acompanhava comprou pra ela, e foi-se embora abrindo novamente aquele sorriso banguela que parecia realmente sincero.
Dei-me conta então de que talvez ela tivesse uma história incrível com vários namorados, talvez ela seja a rainha do sexo oral no seu bairro.
Ao vê-la caminhando de costas pude analisar como num filme sua vida, e a minha e a de várias pessoas que a gente nem se quer lembra que tem alma. Todos nós temos uma história incrível. E a dela era ser a moça banguela do relógio de Birigui, rainha do sexo oral no seu bairro. Mas eu não pude resumir a minha como a dela. A moça da claro que abandona amores para realizar mudança de ares.

Assim ficou bom!