28.4.10

O dia da aposentadoria.

- Amanhã é feriado, amanhã é feriado!
Aquele velho saiu gritando na rua, pela vizinhança. E todos que o ouviam, estavam o achando louco. Feriado? Mas amanhã é 24/04, o feriado foi dia 21. E ele insistia dizendo: - Amanhã é feriado, que bom! Até que enfim esse dia chegou.
Eu estava chegando no trabalho quando ele me parou e disse:
_ Ô Minha jovem, amanhã é feriado, não é?
_ Não que eu saiba, e olha que geralmente eu fico atenta aos feriados.
_ É sim, quer apostar como é?
_ Hã?!
_ Que dia é amanhã?
_ Acho que é 24. Não é?
_ Isso mesmo, agora olha aqui - tirando o RG do bolso me apontou na data de nascimento - 24/04/1954. Qualé o cabra que você conhece que nasceu no dia vinte e quatro, do quatro, de mil novecentos e quarenta e quatro, às vinte e quatro horas?
Disse que nenhum e tentei voltar ao trabalho - se ele me deixasse. Mas existe 24:00? Depois das 23:59 o relógio não zera e começa um novo dia às 00:00. Acho que sim. E se assim for, ele não nasceu portanto no dia 24 e sim no dia 25. Ia precisar esperar mais um dia pelo feriado.
_ Amanhã eu faço sessenta anos, até que enfim minha aposentadoria!
_ Parabéns, que bom que a sua chegou; mas enquanto não vem a minha eu preciso trabalhar.
Ele se virou e continuou gritando "Amanhã é feriado"
Depois eu me dei conta, nasceu em 54? Então ele não vai fazer 60 anos e sim 56. Xiiii, acho que ele vai ter que esperar mais quatro anos.

17.4.10

Do sonho da sexta.

De novo naquele motel que só existe nos meus sonhos. Eu e ele, num quarto com detalhes de madeira, e vidros embaçados por toda parte, era só isso que dividia um quarto do outro e os corredores. Além de umas escadas que davam acesso aos quartos que eram elevados.
Por todo lado tinha sangue quando ele entrou, e ela desesperada chorando no banheiro esperava que ele não viesse, mas veio. 'Que bom!' pensou depois de tudo.
Foi uma noite de amor como só pode acontecer nos sonhos, em baixo de um lençol vermelho e com velas por toda parte ele gemia seu prazer descrevendo as incríveis sensações; era como morrer na boca de uma mulher de olhos tão negros quanto a noite. Explodir e morrer.
Depois disso, uma nova face resplandeceu à porta entreaberta do banheiro. Já de outra maneira, ele gemia o prazer dela; ela lhe mordia a orelha, simultaneamente, com carinho e ferocidade; o suor que escorria por entre os seios e lhe molhava a raiz dos cabelos, pingava sobre ele escorrendo pelo peito até as costas; e as unhas nelas cravadas rasgavam a pele do responsável pelo maior prazer. Num simples e repetitivo movimento de vai-e-vem eles acabaram adormecendo sobre o lençol já encharcado do amor dos dois. Ela se virou e suspirou por mais essa noite em Paris, e Que Bom que Ele veio!

16.4.10

O sexo é sagrado...

O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
Claudia Marczak
Trilha: Brilha Onde Estiver - O Teatro Mágico



(L)

15.4.10

Daquela conversa morta e ressucitada.

Dormi chorando pela dor de cabeça e acordei chorando pela dor de ausência. Me sentindo sozinha.
Tão triste lembrar de certas coisas; e se fosse você, perdoaria?
O Perdão uma vez dado não deve ser relembrado, se for é porque não foi realmente perdoado. Então que o seja, a angustia da certeza do perder é maior que a ferida aberta e talvez nunca mais fechada. Um corte no tempo, um falha do homem causada por ele. Mas do que eu estou falando?
O Perdão já foi dado e não merece ser lembrado.
Mas tem coisas que nunca morrem definitivamente mesmo.

Trilha: Zé Ramalho - Garoto de Aluguel