26.4.09

de mim

Eu sempre tive o mau hábito de gostar do médio e do mais ou menos. E ainda assim conseguir conciliar com meus toques extremos, ora por falta, ora por excesso. Sempre quis ser artista, não me importava ao certo bem de quê. Cantora, pintora, dançarina... qualquer coisa. Mas onde andou meu talento esse tempo todo? Não canto, não desenho nem casinha com chaminé e abandonei a pista quando saí do Mato Grosso do Sul. Talvez eu não tenha talento mesmo, não é questão de tê-lo perdido, é questão de nunca tê-lo tido. Tudo bem, acontece..
Eu queria aquela vida boêmia. Todo o tesão pelas coisas menos convencionais e politicamente erradas. A música. Minha grande paixão, não a primeira, mas a maior. Meu romance excessivo, amor maior por mim mesmo. Meu cigarro, minha bebida, meus homens. Tudo que eu nunca vou ter.
Maysa. Era assim que eu queria ser. Mas ela não seria daquele jeito se tivesse que seguir uma vida normal, arrumar um trabalho de garçonete e cuidar sozinha de seu filho. Ela só pode nascer e morrer a romântica extrema, boêmia que era porque era artista! Tudo que eu nunca vou ser.
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Sempre tive também o mau hábito de me apaixonar pelos caras errados. O que só ratifica "o tesão por todas as coisas menos convencionais"; Os caras mais ou menos bonitos, mais ou menos legais, mais ou menos certinhos. Manés não! Homem de gel e cabelo penteado de lado é o fim da picada. Tive minhas paixonites e meus grandes amores, todos pelos caras errados, óbvio. Se fossem os certos não fariam parte do passado. Deixei todos, meus cabeludos e carecas, estudantes e proletariados e completamente descocupados, caras inteligentíssimos outros asnos em duas patas. Algum deles eu gostaria de ter trazido como bagagem pela minha viagem sem fim, confesso. Mas eu tive que deixar minha bagagem de amor lá, na rodoviária.
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Tive meus problemas no passado. Pura ignorância, às vezes a gente acha que nunca vai passar, que a nossa rixa familiar dura pra sempre, outras vezes não. Mas eu sei que isso só existe por um motivo: Pura ignorância! De ambas as partes, ambas cansadas de tentar convencer o outro de suas razões, sempre em vão. Afinal, somos ambos irredutíveis, ambos inflexíveis. E aqui me vou. Seguir minha vida, já que afinal encontrou-se um consenso: ambos almejamos minha ida, ó pai.
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Eu, insegura de mim, insegura do mundo.
Eu, que já desisti de alcançar meu sonho de ser artista de qualquer coisa, de ganhar a vida com algo que ame mais que qualquer coisa e passar ela com alguém do mesmo calibre do meu trabalho agora vivo no mesmo instinto mecânico que o resto do mundo. Minha arte agora é morta, preto no branco: Letra no papel.

19.4.09

à

Àquela que me buscou em meio às chamas de desespero.

Não consigo me libertar. Perdi meu vínculo com as letras, com o àlcool e com o meu cigarro, talvez com as pessoas também. Os dois únicos meios que já encontrei pra atingir o meu nível elevado de consciência foram perdidos. O meu cosmo; perdi suas chaves. Perdi meu mapa, perdi meu elo. Sou um laço desfeito, e não daqueles laços que antes eram bonitos e quando se desfazem sentem orgulho de si mesmo. Não sou um laço teimoso. Sou um nó de gravata mal feito esperando por um pescoço que me ame e não queira mais trocar, mesmo que seja um nó meio torto e frouxo.
Sou um nó de gravata que atingiu a forma mecânica de viver e esqueceu-se de como é a vida real vista de dentro pra dentro.
Agora eu sou superficial, vista apenas por fora, de quem está de fora. Exceto àquela que me pegou com os delicados dedos e fez de mim um laço bonito e firme. E disse: Vá, seja um laço teimoso e tenha orgulho de si quando feito e depois desfeito.

Veja o vídeo no link 'laço.'

6.4.09

Ok, após longas semanas sem postar eu preciso escrever. Vou ter que escrever porque eu estou realmente cheia, logo preciso me esvaziar. Estou cheia de algo que há muito não sentia. Algo que não sentia desde uma noite deitada num sofá sobre o peito de alguém, ou de uma manhã que veio alguns meses depois, na no mesmo sofá, colocada do mesmo jeito, só que agora com uma fala bem diferente: _ eu te amo mesmo. Me sinto cheia de contentamento!
"Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder."
Eu não posso me contentar; não mais. Nossas noites completas. Cheguei a acreditar que nunca viriam. Mas vieram, e foram todas - todas - lindíssimas. As de amor, de embriaguez e até as de dor. Foram todas lindas porque é lindo acordar com quem você ama do lado. E quando eu sonhei que você me deixava e acordei meio aflita estava abraçada nele, e sussurei ao pé do ouvido: _ eu te amo mesmo. Mas ele não ouviu. Perdido em seus sonhos eu o fitei por longos minutos enquanto ele dormia com os lábios entreabertos. Sua respiração pesada, parecia doer ser ele; deve ter sido uma cena linda de ser vista de longe: Ela o fitava acariciando seus cabelos enquanto ele nem sabia o que estava acontecendo perdido em seus sonhos de super herói, O salvador do mundo! 
Não! O Salvador de mim. Mas não foi com isso que ele sonhou. Isso aconteceu na vida real, enquanto todos estavam acordados.
E depois quando de tão bêbado retirou-se do amor dormiu com o carinho de quem resolvera esperar e adormecer com sua respiração ora calma, ora barulhenta. Acordar com beijos e carícias e peles macias se encostando e mãos deslizando e... fôlego! Adormecer com sua respiração ora calma, ora barulhenta.
Oh! tivemos nossas noites inteiras e foram todas lindas!