Eu sabia que esse dia chegaria.
O dia em que me exauri.
Como se toda a vida, toda a energia, toda vitalidade tivessem sido gastas de uma só vez. Coisa de gente que viveu demais. Que se deu demais.
E agora, não tem mais nada.
Como se toda autoconfiança tivesse sido usada numa só bala.
Os planos sumiram. Havia um. Havia vários, aliás. Coisa de gente esperta, que sempre tem um outras alternativas. O plano B, C... Hoje, se quer tem o primeiro.
Os caminhos se perderam; se cruzaram; as pontes se romperam: tudo está inacessível.
E ao redor, é mundo demais pra se importar com isso.
Toda a vida eu tentei vencer esse bicho dentro de mim. Ora como um animal voraz, ansioso. Ora como alguém indefeso, delicado demais pra mim. Equilibrei na corda bamba. Por todos esses anos. Uma angústia sem tamanho, sem direção, sem motivo, e que agora está me vencendo. Uma dor física que corrói meus dias. Um aperto no peito que me perde o fôlego às vezes. Parece que vou morrer, mas passa, e eu não morri.
Continuei buscando o caminho.
E onde antes tinha o discurso 'siga em frente', 'só você vencer por você' hoje encontro 'para quê tudo isso?'. Como é possível viver nesse mundo doente e também não se contaminar?
Tem muita gente, de todo tipo. Mas boa parte é ruim. E essa parte não é maior que a outra, mas tem mais poder. Nos comanda, nos lidera, nos governa. Bando de babacas. São quase inatingíveis.
Eu queria fazer a diferença; É por isso que tenho jornalismo como ofício. Mas no lugar de grandes investigações me deparo com uma rotina desesperada, discussões e nervos à flor da pele, além de incompetência e um diário exercício de paciência. Às vezes o exercício falha e a gente pensa "para quê tudo isso?".
A vida tá passando, e no lugar de sonhos eu tenho nada. As coisas que gostei me parecem desinteressantes. Sou grata e orgulhosa pela minha carreira, meu carro, e os poucos bens que possuo. Mas Para quê? De que servem essas coisas?
Porque é que aquele senhor bem velhinho, visivelmente debilitado e com roupas velhas precisa vender picolé nas ruas andando quilômetros com um chinelo de dedo? O que ele fez pra merecer essa velhice? Não foi um bom homem? Foi egoísta? Fez escolhas erradas e perdeu tudo que tinha? Foi uma vitima do mundo? É certo acreditar que ele foi arquiteto do próprio destino?
Porque eu presumo ser do meu?
A angústia de não saber pra ir poderia ser substituída pela paciência de acreditar no destino. Mas ser assim é pedir demais pra mim.
k.o.
Há uma semana
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