Eu tentei escrever uma história. Desde cedo estava com aquele último pedacinho na minha cabeça, acordei pensando nisso: "E então comi o macarrão que havia preparado para nós sozinha, e ele? Dele eu não sei mais, deixou-me aqui, sozinha, á luz de velas com um macarrão frio." E pensei nesse mesmo trecho durante o dia, pensando o que poderia ter acontecido antes. Quantas estórias e histórias fantásticas poderiam ser contadas para ilustrar o motivo de ela estar jantando sozinha na noite em que havia preparado tudo para os dois? (Quantas histórias e estórias fantásticas eles nos reservam?)
Ia escrever sua histórinha, sem final feliz, mas era uma histórinha. Apaguei ainda no começo. Não sei inventar e escrever dá muito trabalho: Tem que organizar as palavras de modo a soarem bem, parecerem bonitas - o que não são (afinal Uranusfobia é uma palavra nobre quanto Prazeroso, ou Beleza). Pra narrar nós precisamos entrar em detalhes, dizer as cores das cortinas e da cinta-liga que ela comprou - é, ela comprou uma cinta-liga e o cafageste não apareceu! - e eu não gosto de detalhes, são tão dispensáveis, desprezíveis!
Pra mim, ela tinha perfumado a casa com essência de jasmim e tinha trocado as cortinas da casa toda, no quarto colocou as roxas, mórbidas mas sensuais. Como o vestido que usava um vestido simples preto, de alças finas, decote em V, que ia até as canelas, estava descalça, e esperava por ele vendo fotos e brincando com os pés no tapete da sala. Esperou por ele muito tempo, começou a chover, e ela viu mais fotos...
Vê? Não! as fotos não! Os detalhes.
Se eu não tivesse dito a cor das cortinas você, que lê, ia pensar na cortina que acha mais bonita - talvez não seja a roxa. Se não tivesse explicado seu vestido você pensaria no vestido mais sensual possível, não nesse preto que lhe esconde as pernas por completo.. Talvez pensasse em algo vermelho, de renda, curtíssimo e com um decote enorme. Salto alto, fino... Mas não pense isso.
Minha personagem é simples, não é fantasiada como essas palavras, que parecem nada dizer.
Ela não usa maquiagem forte, nem roupas extravagantes, não arruma o cabelo pra sair de casa nem todos os artifícios que as mulheres comuns têm o hábito de usarem. Ela só sabe ser ela, nada mais que isso.
E aquela noite era, de algum modo, especial.
A chuva ficou mais forte, acabou a energia e ela teve que parar de ver as fotos. Velas. Jantar á luz de velas, que romântico! Isso se ele vier, é claro. Acho que ele não vem mais.
Ela esperou por ele durante horas e ele não veio.
Não sei o motivo de ele não ter chego, não sou boa com inventar e fantasiar as coisas. Sou simples, entende?
Mas sei que findou a histórinha com ela comendo sozinha o macarrão que tinha preparado para os dois, sem saber dele, com a compania de uma vela que olhava para ela e pensava: Sua idiota!
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