9.11.08


Sentia sua sensibilidade como se fosse a própria, sentia seu corpo.. entendia-o. Todos os sinais mais discretos, os grunhidos e gemidos mais baixinhos, internos; até o silêncio era capaz de compreender. Faltava-lhe folêgo, era necessário respirar rápido, devagar, rápido, devagar.
Sentia minunciosamente todas as palavras: as ditas em alto som e as sussurradas ao pé do ouvido; tudo que lhe viera era degradado e digerido, retinha o que era bom e o que não era guardava apenas remotas lembranças. Mas em geral era expelido, como lixo, como nada.


Mas ela sentia que sua força fora-lhe tirada. Não havia coragem, resistência, não havia entendimento de mais nada, só restara-lhe fé. Não sabia como sabia mas tinha conhecimento de seu saber ('eu só sei'), como se a liberdade que ele ofereceu à ela fosse traiçoeira o suficiente para tirar todo o resto. Sabia que podia fazer tudo, afinal ele não a jugaria, mas não fazia nada porque faltava-lhe coragem, força e entendimento, aliás seu entendimento não foi de um tudo extinguido, tudo se foi, restou a sabedoria. Seus copos de whisky, os de requeijão, as xícaras de café, hieróglifos, ideogramas e desenhos quaisquer... Tudo se foi.

Simbólico demais. E sua boca bem desenhada sorri muito discretamente, movendo poucos músculos talvez nenhum inteiro.

Aliás, que boca, que tentação! É daquelas que não dá vontade de parar de beijar, não dá pra parar de olhar, de tocar, encostar.. Porque, afinal, ele é assim. Encantador quanto sua boca, quanto sua fala, quanto o resto.

Sentia todo ele, como se fosse um pequeno boneco articulado, como se fosse... mas não era. Sua alma era real, sua realidade era imensa, e sua imensidão era um labirinto onde ela se perdia todos os dias, como nos pequenos olhos inchados.

Sentia, sobretudo, o trágico caminho que se estava tomando.

Tendo conhecimento sobre a vida entendia que todos nós estamos enfeudados à caminhar para o fim e que nada mais temos a fazer que não encarar os fatos, a objetividade como ela é, mas entristecia-lhe perceber uma verdade tão dura e próxima. A distância chegaria, e logo, e a dor apertaria seu peito até que ele derramasse seu pesar reclamando saudades de tardes quentes e noites frias, abraços apertados e pernas entrelaçadas.

Sentia, agora, dor.

Um comentário:

Junior Matos disse...

;D
nunca vo esquecer de voce :*