27.12.09

Há dias em que a gente acorda pra ler, outros para ser lido.
Há muito eu quero ser lida, mas não dou essa chance a ninguém, então eu leio. Hoje acordei decidida a ler, e não li, então acho que é para eu ser lida.
Ao Dileto, a nossa história:
Dos primeiros dias, que marejavam mais os olhos que qualquer ácido, eu posso dizer o quão difícil foram. Tão sonhadora, tanto quanto se pôde ser (e talvez até mais, quando na cama, sonhando - ou não dormindo). Comparando o que se tem o que quer ter (mas se quer porquê não tem?)
Depois de algumas noites de tantos sonhos, já acostumada com a presença noturna aprendi: Era só adormecer e a distância de alguns quarteirões era rompida. Ora próximos demais, sobre a mesma cama, ora em ruas empoeiradas (tudo tem sua referência). E no outro dia, segunda feira. Mãos dadas no ônibus, um caminho tão curto, tornava-se ainda mais rápido, parece que o motorista sabia, dois apaixonados proibidos dividiam o braço de uma poltrona do último assento, corre pra diminuir o tempo do encontro semanal. E quando ainda mais às escondidas encontrava-se com o friozinho na barriga de que enfim seria o grande dia, e nunca - por um motivo ou outro - era. O Grande dia, enfim, só chegou no que foi esperado como a última chance. Depois de tantas situações favoráveis a escolher, a mais desfavorável nos escolheu, fazendo daquele momento um dos mais vivos na memória. Tanto tempo depois, onde tudo parecia adormecido, aparece a vida que se queria ter. Os sonhos se tornaram, enfim, verdade. E eu não precisava mais dormir para encontrar, com os olhos abertos olhando em frente podia vê-lo. No reflexo do espelho, na direção dos olhos, ao alcance das mãos.
Um dos amores mais bonitos que eu já vi fora das artes.
Mas o tempo passou... e o que antes me ardia os olhos agora me faz florecer sorriso, o que antes doía agora admira-me. Com a sensação de satisfação, não de missão cumprido, só de satisfação. E quando pelos dias pego-me na presença de alguém com semelhante aparência só posso sentir um pensamento vagando no ar, saindo de mim. Um pensamento fora do corpo, do tempo e de todas as coisas presentes, como um sopro de coragem, uma injeção de ânimo. Então volta-me a lucidez - como sempre e a vida continua, sempre a mesma.

14.12.09

Da morte.

A perda é definitivamente uma das coisas mais estranhas que podemos lidar.
Especialmente quando ela é perto o suficiente pra desencadear uma série de pensamentos e sentimentos que nunca havíamos sentindo, mas não tão perto a ponto de perder a cabeça. Acreditar que as coisas só acontecem na hora em que devem acontecer sempre fez parte da minha filosofia, mas é difícil engolir o fato quando a tragédia envolve duas jovens de 19 e 20 anos. Parece tão cedo. Nem tão longe, nem tão perto de mim. Na distância suficiente pra sentir; É dificil até mesmo de acreditar, é tão surpreendente.
Diante da situação o sentimento principal é medo. Se aconteceu com elas, pode ser com qualquer um. Não é a morte que me assusta, é a perda, o espaço em branco, a lacuna que aos poucos vai ficando. Quantos amigos nós podemos perder, parentes, família... Quantas pessoas a gente ama e pode a qualquer momento ter a vida ceifada por um acidente ou por qualquer outra coisa?
O corpo de qualquer vida pode de repente estar coberto de margaridas brancas e amarelas sob um véu branco, dentro de um caixão com uma coroa de flores em sua cabeceira. Pode ser com qualquer um, eu, você, seu melhor amigo, teus pais, teu filho ou o amor da sua vida.
Não pense que 'comigo não acontece'. Só é preciso uma coisa pra morrer: Estar vivo. Acredite, pode acontecer com você, e um dia provavelmente acontecerá. Esteja preparado, se dispessa sempre da melhor maneira possível e não esconda seu amor. A dor de uma perda é enorme e inversamente proporcional à distância sentimental que temos da pessoa. Mas no fim das contas eu continuo sentindo medo.