Eu sempre tive o mau hábito de gostar do médio e do mais ou menos. E ainda assim conseguir conciliar com meus toques extremos, ora por falta, ora por excesso. Sempre quis ser artista, não me importava ao certo bem de quê. Cantora, pintora, dançarina... qualquer coisa. Mas onde andou meu talento esse tempo todo? Não canto, não desenho nem casinha com chaminé e abandonei a pista quando saí do Mato Grosso do Sul. Talvez eu não tenha talento mesmo, não é questão de tê-lo perdido, é questão de nunca tê-lo tido. Tudo bem, acontece..
Eu queria aquela vida boêmia. Todo o tesão pelas coisas menos convencionais e politicamente erradas. A música. Minha grande paixão, não a primeira, mas a maior. Meu romance excessivo, amor maior por mim mesmo. Meu cigarro, minha bebida, meus homens. Tudo que eu nunca vou ter.
Maysa. Era assim que eu queria ser. Mas ela não seria daquele jeito se tivesse que seguir uma vida normal, arrumar um trabalho de garçonete e cuidar sozinha de seu filho. Ela só pode nascer e morrer a romântica extrema, boêmia que era porque era artista! Tudo que eu nunca vou ser.
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Sempre tive também o mau hábito de me apaixonar pelos caras errados. O que só ratifica "o tesão por todas as coisas menos convencionais"; Os caras mais ou menos bonitos, mais ou menos legais, mais ou menos certinhos. Manés não! Homem de gel e cabelo penteado de lado é o fim da picada. Tive minhas paixonites e meus grandes amores, todos pelos caras errados, óbvio. Se fossem os certos não fariam parte do passado. Deixei todos, meus cabeludos e carecas, estudantes e proletariados e completamente descocupados, caras inteligentíssimos outros asnos em duas patas. Algum deles eu gostaria de ter trazido como bagagem pela minha viagem sem fim, confesso. Mas eu tive que deixar minha bagagem de amor lá, na rodoviária.
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Tive meus problemas no passado. Pura ignorância, às vezes a gente acha que nunca vai passar, que a nossa rixa familiar dura pra sempre, outras vezes não. Mas eu sei que isso só existe por um motivo: Pura ignorância! De ambas as partes, ambas cansadas de tentar convencer o outro de suas razões, sempre em vão. Afinal, somos ambos irredutíveis, ambos inflexíveis. E aqui me vou. Seguir minha vida, já que afinal encontrou-se um consenso: ambos almejamos minha ida, ó pai.
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Eu, insegura de mim, insegura do mundo.
Eu, que já desisti de alcançar meu sonho de ser artista de qualquer coisa, de ganhar a vida com algo que ame mais que qualquer coisa e passar ela com alguém do mesmo calibre do meu trabalho agora vivo no mesmo instinto mecânico que o resto do mundo. Minha arte agora é morta, preto no branco: Letra no papel.