29.10.10

Do dia difícil.

No fim das contas eu estou sempre sozinha.

Quando eu mais preciso estou sozinha. E ainda me culpam por parecer fria demais de vez em sempre... Fiquei assim. Fria e sozinha. Como uma velha seca.

Chorar na multidão é uma fraqueza raríssima. De quem já não agüenta mais sobre as próprias pernas. De quem já não consegue mais sozinha. De quem implora por ajuda e num grito desesperado grita: Cuide de mim!

Mas tenho amor. Tenho tanto amor, tanto amor pra dar. Pra receber. Eu mereço. Sei que mereço ser feliz. Porque então não consigo alcançar a plenitude?

Essa casa vazia e esses móveis, brancos demais para mim, chegam a me irritar. Onde estão meus amigos? Cadê um abraço, um beijo? Não tenho consolo. Só sei chorar e chorar. Aonde isso vai dar? Numa cara inchada e ‘embriagada num espelho de um banheiro’.

Nem tenho ninguém pra dividir uma cerveja e umas mágoas agora. E era agora que eu precisava. AGORA;

Mas agora estou ocupada demais defumando a minha casa. Bebendo minha cerveja quente e chorando minhas mágoas no computador. Lindo não?

Depois reclamam por eu ser uma velha seca...

Foi assim que eu aprendi a ser.

13.10.10

Microconto de bolso - "Circuito fechado".

O dia começa com um chinelo nos pés e termina da mesma forma. Dar bom dia e fazer o café preto pra poder fumar. Fumar pra poder beijar. Banheiro, barata. De novo chinelo. Plaft. Droga, sujou a parede. Deixa aí, depois eu limpo. E depois eu arrumo a roupa dentro do guarda roupas também. Ou não, acho melhor encontrar uma casa nova e fazer logo a mudança.
Mais café, mais cigarro. Uma boa música tocando na tv, um musical que faz chorar antes do dia começar.
Lavar roupa, louça, área, almoço, louça.
O dia acontece e termina com o chinelo no pé da cama.
Começou com gosto de café e terminou com de cerveja. Cerveja? Esqueci de escovar os dentes. Pasta, escova escova, água. Barata! Corre e pega o chinelo no pé da cama, e mata a barata da parede. E esquece o chinelo por lá mesmo.
Corrigindo: O dia começa com os dois chinelos na cama, termina com um pé só, repousando sozinho.